Claudimila Abreu, estudante de Enfermagem, está prestes a realizar o seu sonho de se formar, mas sua jornada académica foi repleta de desafios financeiros e obstáculos. Claudimila conta que iniciou os seus estudos em Enfermagem com grande entusiasmo, mas logo deparou-se com uma dificuldade significativa: o custo da propina.
No primeiro ano, a jovem não tinha uma bolsa de estudos e acabou contraindo uma dívida considerável para financiar a sua educação.
Antes, trabalhava, mas decidiu se dedicar integralmente aos estudos, o que a deixou desempregada e com a dívida acumulando.
Negociar com a instituição de ensino para permitir a sua matrícula no segundo ano e candidatura a uma bolsa foi um desafio árduo, mas Claudimila perseverou, conseguiu a bolsa e começou a pagar a sua dívida aos poucos.
“Foi difícil negociar com a escola sobre os mais de 100 mil escudos de dívida, para me deixarem matricular no segundo ano de forma a candidatar-me à bolsa. Mas, a escola deixou, consegui a bolsa e passei a pagar a dívida aos poucos”, narra.
Foi apenas no mês passado que Claudimila conseguiu finalmente quitar a sua dívida, logo após a imposição de fitas.
“A universidade fez-me a proposta de pagar, todos os meses, três contos mensais e por ano, 30 mil escudos. Ainda assim não conseguia pagar e pagava com a Totocaixa. Na minha turma, eu era a única nessa situação porque logo no primeiro ano conseguir obter a bolsa do estudo”, prossegue.
Além dos desafios financeiros, o transporte também foi uma questão complicada para Claudimila. O Sol atlântico estabeleceu que, a partir dos 24 anos de idade, mesmo para estudantes, o valor do passe de transporte seria equivalente ao de um trabalhador.
Agora, Claudimila diz estar focada em concluir a sua monografia, mas tem enfrentado atrasos devido à demora na resposta da comissão de ética da sua universidade. A jovem precisa entregar a sua monografia até Dezembro, ou enfrentará uma multa considerável.
Adiar a monografia para priorizar emprego e família
Luís Agues concluiu quatro anos de estudos em Publicidade e está a apenas uma monografia de obter o seu diploma. Durante o seu percurso académico, o jovem foi beneficiado com uma bolsa de estudos que cobriu metade das suas propinas.
Natural da ilha do Maio, Agues estudou na Praia, mas não teve despesas de hospedagem, já que morava com o seu irmão mais velho e a família deste. Mesmo assim, enfrentou desafios financeiros significativos para pagar a outra metade das propinas, que era de aproximadamente 7.500 escudos.
“Em 2018 quando completei os estudos e faltava apenas fazer o estágio e a monografia não havia orientador disponível. Passado o tempo da entrega da monografia teria de pagar uma multa de mais ou menos 40 mil escudos. Nisso resolvi regressar à ilha do Maio”, detalha.
Em Maio, Luís encontrou um emprego que estava alinhado com a sua formação em Publicidade. O trabalho envolvia tarefas relacionadas ao que ele havia estudado e estava se familiarizando rapidamente com as suas responsabilidades. Desde então, Luís permanece empregado nessa posição.
A vida tomou um rumo diferente para Luís após a morte do seu pai quando já estava trabalhando na ilha do Maio.
“Sem o meu pai e o meu irmão mais velho que se encontra na Praia, passei a ser o provedor da casa onde vivemos eu e a minha mãe”, relata.
Com o emprego, Luís diz que realizou muitas conquistas pessoais e profissionais o que tornou a ideia de retornar à Praia para concluir a sua monografia uma decisão complexa.
O jovem reconhece que ainda não sentiu a necessidade premente de obter o diploma e acredita que a sua situação actual de emprego e vida familiar estão bem estabelecidas.
“Ainda que tivesse um emprego garantido na Praia precisaria pensar muito se voltaria ou não. Nem é tanto a questão de pagar a multa para poder fazer o estágio e defender a monografia. É mais a questão de ter de deixar a minha mãe e o meu emprego”, reconhece.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1141 de 11 de Outubro de 2023.