No relatório "Adaptation Gap Report 2023: Underfinanced, Underprepared. (Subfinanciado, malpreparado)", que vai na oitava edição, o PNUA refere que os Estados mais vulneráveis precisam de mais 194 mil milhões a 366 mil milhões de dólares (182 a 344 mil milhões de euros) de financiamento por ano.
Estes números aumentaram mais de 50% no último ano, muito porque o financiamento bilateral e multilateral aos países em desenvolvimento caíu 15% em 2021 (para 21 mil milhões de euros) e à medida que os impactos da crise climática continuam a aumentar.
"Em 2023, as alterações climáticas voltaram a ser mais destrutivas e mortais: foram batidos recordes de temperatura, enquanto tempestades, inundações, ondas de calor e incêndios florestais causaram devastação", afirmou a diretora executiva do PNUA, Inger Andersen, citado no comunicado que acompanha a divulgação do relatório.
No entanto, "os progressos em matéria de adaptação estão a abrandar nas três áreas analisadas anualmente - financiamento, planeamento e execução - quando deveriam estar a acelerar rapidamente", acrescentou Andersen.
A insuficiência de financiamento e de ação para impulsionar a mitigação - medidas para reduzir ou evitar as emissões de gases com efeito de estufa - e a adaptação - respostas aos efeitos das alterações climáticas - tem consequências graves para os países pobres, alguns dos quais localizados nas regiões mais afetadas por esta crise, refere-se no relatório.
Nas últimas duas décadas, as 55 economias mais vulneráveis à crise climática perderam até 500 mil milhões de dólares (469 mil milhões de euros) devido a fenómenos como a desertificação ou a subida do nível do mar, "custos que aumentarão acentuadamente nas próximas décadas", segundo o PNUA.
Os custos de adaptação nos países pobres estão estimados pela ONU entre 215 mil milhões e 387 mil milhões de dólares por ano (entre 202 mil milhões de euros e 363 mil milhões de euros).
Embora mais de metade dos 197 países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (CQNUAC) tenham desenvolvido pelo menos um ou dois instrumentos para reforçar a sua adaptação, o número de ações financiadas por fundos internacionais estagnou, alertou a organização das Nações Unidas.
Dada a diferença entre o financiamento atual e o que seria necessário, o PNUA sublinha que não é suficiente para cumprir o objectivo fixado na COP26 de 2021, em Glasgow, no Reino Unido, de 40 mil milhões de dólares (38 mil milhões de euros) por ano para a adaptação ao clima até 2025.
O relatório recomenda diferentes vias para aumentar o financiamento, seja através dos orçamentos nacionais, de fundos internacionais e do setor privado, de remessas ou da reforma da arquitetura financeira internacional.
"Mesmo que a comunidade internacional parasse completamente de emitir gases com efeito de estufa hoje, seriam necessárias décadas para que o clima estabilizasse", lamentou Andersen.
O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, reagiu a estes dados hoje divulgados e alertou que os países pobres estão mais subfinanciados do que nunca para se adaptarem à crise climática.
Guterres defendeu que os países ricos devem "apresentar um roteiro claro para duplicar o financiamento da adaptação, tal como prometido, dando prioridade às subvenções em detrimento dos empréstimos", enquanto os bancos multilaterais de desenvolvimento terão de afetar pelo menos 50% do seu "financiamento climático" à adaptação.
O Secretário-Geral apelou ainda aos governos para que tributem "os lucros extraordinários da indústria dos combustíveis fósseis".
O estudo foi publicado antes da Cimeira das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28), o principal fórum mundial de política climática, que se realiza no Dubai de 30 de Novembro a 12 de Dezembro.