Evocação e homenagem às mulheres

PorBrito-Semedo,27 mar 2023 7:58

No mês da Mulher, evoco e homenageio todas as mulheres, em particular as de Santo Antão, que sempre se evidenciaram nas mais diversas áreas, enquanto proprietárias no comando agrícola, na culinária fina, nos lavores, na docência, na medicina e na literatura, com realce para a poesia.

Mulher de Santo Antão,

Com sua força desmedida,

Inspirada nas íngremes montanhas,

Emana uma energia contida.

Seus passos firmes e seguros,

Transcendem a rocha e o chão,

Elevando-se com a determinação

De quem sabe o que quer e aonde vai.

Seus olhos claros e serenos,

Refletem a beleza natural

Da ilha que a viu nascer,

E que ela ama com fervor e lealdade.

Mulher de Santo Antão,

Com seu jeito acolhedor,

É símbolo de resiliência,

E de um povo cheio de amor.

Seus gestos são tão sinceros,

E transmitem uma energia pura,

Que nos faz sentir pequenos,

Diante de tanta bravura.

Por isso, ó mulher de Santo Antão,

És um exemplo de coragem e superação,

E tua história será sempre lembrada,

Como um legado de amor e devoção.

– ChatGPT (Inteligência Artificial)

Santo Antão é uma ilha de bravas e notórias mulheres. Destaco como suas representantes: Gertrudes Ferreira Lima, Maria Francisca de Oliveira Sousa e Maria Felícia do Monte Falco Silva Almeida.

Gertrudes Ferreira Lima, a Humilde Camponesa, ou a Obscura Paulense, como assinava, nasceu em 1854 e faleceu a 7 de Agosto de 1915. Estudou no Colégio das Ursulinas, em Coimbra, onde cursou o Magistério Primário.

Foi professora de ensino primário na escola da Garça. Casou-se com Manuel Jansénio Tolentino a 1901, com 46 anos, e viveu em Lisboa por volta de 1898. Colaborou com textos poéticos e em prosa em almanaques portugueses. Foi uma poetisa muito apreciada no círculo poético cabo-verdiano.

“Dona Gertrudes Ferreira Lima (Humilde Camponesa) – É uma mimosa e inspirada poetisa que tem colaborado neste Almanaque com o pseudónimo de Humilde Camponesa. Seus versos são harmoniosos e sentimentais. Grande admiradora de João de Deus, a Humilde Camponesa, professora distinta, foi quem primeiro ensinou pelo método do grande pedagogo, preenchendo assim uma enorme lacuna no ensino das primeiras letras infantis (…)”. – “Cabo-verdianos Ilustres”, in Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro (Presença Cabo-verdiana), 1901-1932, Vol. II, pág. 43.

Gertrudes Ferreira Lima [Tolentino] figura na antologia poética Poetisas Portuguesas. Antologia contendo dados bibliograficos et biograficos ácêrca de cento e seis poetisas de Nuno Catarino Cardoso, Lisboa, 1917.

Maria Francisca de Oliveira Sousa (1902 – 1957). Médica Pediatra. Diplomada pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto em 1927.

É, provavelmente, a primeira mulher cabo-verdiana a formar-se em Medicina. Destaca-se pelo seu pioneirismo, numa época em que pouquíssimas mulheres tinham acesso ao ensino superior, mormente numa profissão dominada por homens. Foi Delegada de Saúde do Paul, Santo Antão, em 1929, e em São Vicente a partir de 1932. Interessou-se pela criação do Dispensário da Puericultura na cidade do Mindelo, que foi inaugurado em 1951.

Em finais dos anos quarenta houve um surto epidémico de “coceira” que foi combatido por uma pomada, cuja fórmula se dizia pertencer a esta médica, ficou a ser conhecida por “Pomada Dra. Maria Francisca”.

De referir ainda que a “pracinha de dotóra”, no Mindelo, deve-se ao facto de se situar frente ao local de residência da médica.

Felícia Maria Antónia do Monte Falco Silva Almeida (1917 – 2008), filha de Manuel Silva, um dos cabecilhas do movimento de 1892 pelo grupo do Paul, cursou o Magistério Primário tendo sido professora no Paul, Santo Antão, e Lisboa. Mais tarde seguiu para a Universidade de Sorbonne, França, onde se especializou em Educação. Regressado a Cabo Verde, leccionou português e francês no Liceu Gil Eanes e Escola Técnica.

Dela se disse ser de “muito respeito”, uma espécie de “encarregada de educação” de todos os estudantes santantonenses em São Vicente. “Prá frentex”, tendo sido das primeiras mulheres a usar calças em Cabo Verde.

Nos tempos actuais, a grande escritora Dina Salústio e duas das três Bastonárias da Ordem dos Advogados de Cabo Verde (OACV), Leida Maurício dos Santos e Sofia de Oliveira Lima, são santantonenses.

Em 2000, fruto de um projecto de Antonieta Miranda e Mariana Ferreira, naturais de Ribeira Grande, ambas emigrantes na Holanda, foi erigida uma estátua, situada no miradouro frente ao antigo edifício dos Paços do Concelho do Porto Novo, de autoria do escultor Domingos Luísa. A sua localização deve-se ao facto de Santo Antão ser a ilha mais ao norte e Porto Novo, a sua porta de saída.

Homenagem justa a estas e a todas as mulheres que são uma grande inspiração nos dias que correm.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1112 de 22 de Março de 2023. 

Concorda? Discorda? Dê-nos a sua opinião. Comente ou partilhe este artigo.

Autoria:Brito-Semedo,27 mar 2023 7:58

Editado porAndre Amaral  em  28 mar 2023 8:02

pub.

pub
pub.

Últimas no site

    Últimas na secção

      Populares na secção

        Populares no site

          pub.