Ao descrever a proposta para instituir o dia nacional do Batuco no dia da Mulher Africana (31 de Julho), consensual entre os parlamentares, o deputado José Soares sublinhou a importância daquele género musical, corporizado por mulheres com os seus batuques, com origem na ilha de Santiago, mas que os emigrantes cabo-verdianos espalharam pelo mundo.
“O batuco, hoje, é tanto do interior da ilha de [Santiago], como da cidade da Praia, assim como de Lisboa, de Paris, de São Tomé, como também é de Oeiras, é de Roterdão, de Brockton [Estados Unidos da América], de Lyon”, afirmou o deputado, do MpD, recordando que a mais antiga referência a este género musical em Cabo Verde remonta a 1772.
Trata-se de um estilo musical tradicional de Santiago, essencialmente apresentado por mulheres, conhecidas como batucadeiras, que combina percussão, canto e dança, em que a mulher é a corista e canta sobre o dia-a-dia, mas também de política e cultura, por vezes com crítica.
Com a proibição do uso de tambores durante o período colonial, as mulheres passaram a ‘batucar’ em peças de tecido, que ainda se mantêm, juntamente com os tambores.
Na discussão na especialidade, o deputado José Soares explicou que hoje há dezenas de grupos de batuco em várias ilhas, mas sobretudo em Santiago, e realizam-se concursos e festivais regulares no país e na diáspora, e o ponto alto da divulgação internacional aconteceu em 2019, com a cantora norte-americana Madonna a gravar, cantar e dançar o tema “Batuca”, do álbum “Madame X” com um grupo de batucadeiras.
“O batuco está na nossa alma e no dia-a-dia das mulheres e homens de Cabo Verde. Antigamente, segundo os estudiosos do batuco, o batuco tinha um significado especial, era cantado e dançado nos dias santos, em certas cerimónias, nas festas de casamento e hoje em dia o surgimento de novos grupos de batuco, a partir de 2000 (…), sai do terreiro e passa para os grandes palcos”, sublinhou o deputado.
Do lado do PAICV o deputado Felisberto Vieira destacou que esta iniciativa dos deputados dos dois partidos “faz justiça histórica e cultural a um dos mais sólidos pilares da ancestralidade cabo-verdiana”.
“O batuco é a nossa alma”, declarou, garantindo que o PAICV é subscritor “com muita honra” desta iniciativa legislativa.
“Em verdade, batuco é música, batuco é dança, batuco é literatura oral, batuco é criolidade”, afirmou ainda o deputado.
Após a aprovação da iniciativa parlamentar, por todos os deputados, um grupo acabou por improvisar uma apresentação no hemiciclo, sob o aplauso dos deputados e o "obrigado", no final, por parte das mulheres batucadeiras.
“É um dia grande. Sabemos que o batuco é uma das expressões mais vibrantes da nossa música e da nossa cultura, pelo que são bem-vindas e bem-vindos à Assembleia Nacional”, declarou o presidente do parlamento, Jorge Santos.
A aprovação final fica agendada para sexta-feira, o último dia desta sessão parlamentar ordinária, que encerra também a legislatura, face à realização de eleições legislati